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Fotografia: Edifício em centro artístico de Berlim.
Este trabalho inicia-se com uma temática que explora o percurso humano ao longo de gerações na intervenção da paisagem por necessidades alimentares, espirituais, artísticas ou simplesmente pela prova de poder sobre a mesma. A paisagem rural espraiada nas margens da laguna de Caorle é fruto das intervenções humanas para fins náuticos, produtivos e comerciais. A criação de canais deveu-se ao crescimento agrícola que a região verificou. Um local, onde sem o intuito de modificar a paisagem por razões estéticas ou ecológicas se criou uma simbiose entre elementos naturais e artificiais, resultando numa aumento da procura turista regional.
Sendo Palco de uma magnífica paisagem cultural que não vê o seu mérito totalmente reconhecido, sugere uma intervenção pensada e respeitante da sua tradição.
O parque agrícola de Caorle surge como resposta a esta necessidade, intervindo de uma forma preocupada que realça as poderosas potencialidades paisagísticas do espaço, e reacende o espírito cultural da região, numa estratégia sustentável ecológica e economicamente. Ao nível produtivo reformula o sistema agrícola, tornando-o passível de ser conjugado com áreas de percurso e recreio e técnicas de cultivo tradicionais, que associadas a actividades culturais formam uma centralidade atractiva ao turismo rural de natureza. A implementação da agricultura biológica adequa-se não são à componente cultural da região, como também à componente ecológica, por suprimir o uso de técnicas e fertilizantes poluentes.
Instalado numa zona de actividade agrícola cada vez mais descaracterizada devido à forte pressão industrial e urbana que se tem verificado, este projecto promete enquadrar o sistema edificado envolvente e recuperar a tradição agrícola, enquanto potencia a beleza natural tão típica desta região, agradando às antigas e novas gerações.
Uma proposta induzida pelas forças existentes no espaço, que ostenta as provas da presença humana com orgulho e actualiza a tradição aos tempos presentes e futuros.
Rotunda do Empresário, Maia, 2009. Este é um daqueles trabalhos que nos deixam loucos no início de carreira, quando começamos a ver que todos aqueles pontos negativos que os professores sempre nos avisaram que um dia iam acontecer, acontecem.
O projecto foi-nos encomendado pela Câmara da Maia, com muita urgência pois queriam a obra feita o mas rapidamente possível. Fizeram-se várias reuniões, reformulações e exigências, pois apesar de este ser apenas um espaço de contemplação, a Câmara da Maia sabia que ía ter uma enorme projecção entre os seu habitantes, pois é uma centralidade na cidade, localizado num acesso importante, sendo observado por muita gente diariamente.
Fizeram-se as cedências necessárias (entre elas uma grande redução do projecto para diminuir o preço da obra) e entregou-se o projecto a tempo e horas associado a um plano de manutenção que iria orientar a empresa responsável pela manutenção dos jardins a transformá-lo, à medida que a vegetação ía crescendo, naquilo que tínhamos idealizado para o sítio – j densos maciços de arbustos rústicos e densos maciços de vegetação herbácea.
A obra fez-se, a inauguração também e a Câmara da Maia estava contente com o resultado.
1ºa semana após a inauguração – reparamos que tinham sido roubadas dezenas de plantas, restando agora apenas o buraco onde tinham estado anteriormente.
1ª mês após a plantação – acidente na rotunda. Uma das elevações de terra foi destruída, havendo necessidade de reconstruir e replantar parte do projecto.
3º mês após a inauguração – a zona de acidente foi retocada, mas nota-se que não está como quando foi construída. As plantas ainda pouco se notam. As que foram roubadas não foram repostas. E entretanto roubaram-se mais algumas.
6º mês após a inauguração – as plantas continuam a não ser repostas, começam a surgir algumas infestantes. O prado está alto demais. Os pinheiros não apresentam bom ar.
9º mês após a inauguração – as plantas infestantes tomaram conta do espaço. Já não há qualquer possibilidade de se conseguirem maciços arbustivos cerrados com as plantas inicialmente projectadas, porque são poucas para fazer esse efeito, e as infestantes conseguiram uma presença avassaladora. O prado parece mato. A chuva destruiu o maciço que tinha sido retocado existindo agora um buraco de terra no seu lugar. Os pinheiros estão castanhos. Está um soutien a prender um pinheiro e o seu tutor.
1 ano após inauguração – não há qualquer possibilidade de recuperação do espaço, A empresa de manutenção que aqui interviu inicialmente deixou de intervir, os motivos não os sei dizer. O espaço está francamente pior do que antes de sofrer esta intervenção. A Câmara da Maia que estava tão preocupada em baixar o custo da obra, com este acto de abandono foi como se tivesse deitado todo o dinheiro da obra ao lixo, apenas um ano após a inauguração
Às vezes o mais maravilhoso desta profissão, que é o trabalho com os elementos vivos e as forças da natureza, é o que mais frustra. É nestes momentos em que desejo estar a projectar apenas com blocos de cimento.
Jardim Metamorfose, criado para o Festival de Jardins de Ponte de Lima de 2007 em conjunto com os meus colegas Ana Sofia Pacheco, Mariana Martins Soares e Victor Esteves.
Esse ano o tema era o "Lixo nos Jardins" e a nosso conceito baseava-se numa visão ecossistémica dos resíduos que neste espaço geravam vida. Foi um trabalho bastante plástico, considerando a reduzida dimensão do lote, onde o desenho, topografia e plantação foram trabalhados intensamente. Usaram-se materiais reciclados, raramente vistos em espaços públicos mas que aqui faziam todo o sentido, tornando este um espaço inovador. Concorrendo com projectos realizados por outros artistas, alguns dos quais também bastante interessantes, o Jardim Metamorfose destacou-se por ser um jardim “profissional”. Este festival foi um bom exemplo da diferença entre jardins feitos por Arquitectos Paisagistas, Designers Paisagistas, Arquitectos Civis e Engenheiros Agrónomos.
Esta é uma boa iniciativa de Município de Ponte de Lima que ajuda a dar conhecer o trabalho dos Arquitectos Paisagistas recém formados e que no meu ponto de vista serve como um bom workshop para a experiência do primeiro contacto com uma obra para muitos destes profissionais.